Alonso Delbero era meu tio-avô, porque se fez irmão do pai do meu pai. Além de meu tio-avô, Alonso era médico-clínico, porque batia com martelo em um joelho para ouvir dizerem “33”, ou quase isso. Além de médico-clínico, ele era escritor. Porque não se sabe, mas também não se discute. Era o escritor da família e realizavam glamorosos brindes em homenagem. Nunca publicou uma nota além de duas ou três crônicas num jornal de quarenta anos pra trás, que nem mesmo ele guardou os recortes. E foi só numa conversa de canto de festa que Alonso revelou a mim sua intenção literária: um escritor nunca-lido é sempre um escritor agraciado pelo infinito de possibilidades, sua obra é sempre um “seria” que pode acoplar qualquer-coisa, inclusive o sublime. Bem melhor ser talvez um gênio do que um convicto fracasso.
- Me diz aí, tio, uma frasezinha que seja... feita por você.
- Só entre nós, viu? Não vá contar por outros cantos – pigarreou antes de falar – Meu melhor verso é:
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homenagem a tantas autoridades a quem nos referimos com saliva e gosto bom na boca, sem ao menos colocá-las contra a parede uma vez.
2 comentários:
the best of Saulo Dourado...
Muito bom, Saulo Dourado.
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