Tirou a tomada e a encaixou de volta, testou a posição do fio, apertou o botão de ligar vezes e vezes até se aborrecer e desistir. Xingou o pisca-pisca da árvore, querendo que o povo todo de Tawaian morresse. Falando em morrer, lembrou do cigarro solto no bolso e o acendeu. É. Primeira noite de Natal sozinho. Nem namoradinha de duas semanas, nem cachorro chamado Chico. Mãe no interior, pai sepultado, irmão em Santiago de Compostela. Um desastre.
Com a azia no peito, achou melhor acabar logo a noite. Cobriu a comida de cima da mesa e pensou que talvez no café comeria um pão com queijo cuia. Apanhou as velas vermelhas do jantar e as manejou em círculo, rodeando a árvore e suas bolas prateadas. Xingou mais uma vez o pisca-pisca defeituoso enquanto acendia os pavios com a brasa do cigarro. Era bom assim, essa luz mesmo que improvisada, essa sensação de festejo como em todos os outros vinte e três Natais. Soltou um quase-sorriso, apagou o filtro no chão e foi-se deitar.
Duas horas depois, sob o calor macio das chamas, as bolas prateadas começaram um chacoalho, um barulho vivo, como se em cada uma delas alguém as tocasse pelo lado interno. E na mais baixa, a superfície esférica se rompeu em inúmeras rachaduras, assim como pouco a pouco aconteceu nas outras. De dentro, suspendeu-se uma patinha marrom, em seguida uma cabeça de olhos fechados e um tronco pegajoso e pernas.
Em minutos, os filhotes de rena já estavam enfileirados no parapeito da janela da sala. Voaram.
Um comentário:
momento drogas. =P
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