domingo, 18 de maio de 2008

Recomendações Botânicas

Quando for à feira, nunca aceite as sementes de uma mulher com flores costuradas no vestido. Ela vai querer segurar seu punho e lhe colocar cinco sementes no seu bolso. Recuse-as, jogue-as no chão e as pise, se puder. Mas não cogite levá-las para casa, mesmo que a mulher insista e você queira livrar-se logo dela. E caso você aceite as sementes, não as plante em seu quintal. Mesmo que já esteja ali no seu bolso e a terra tão fofa, tão fértil esteja ali tão sua como também para as suas vontades. E se não vir mal nenhum em cavar um pequeno buraco entre as outras flores, em guardar as sementes na terra, em tapar novamente o buraco e sair satisfeito, não regue. Passe com a água em todos os cantos, menos naquele pedaço em que você introduziu as sementes. E se você regar, arranque as primeiras folhas que aparecerem. E se você não arrancar e deixar simplesmente as sementes brotarem, não apareça mais por seu quintal. Pois lá haverá o que surgiu: um duende, só com o tronco, os braços e a cabeça para a superfície, com a altura de uma mão aberta. Ele bate os dentes uns nos outros o tempo todo para exercitar, move as articulações com um som que assustaria qualquer coração e arremessa punhados de terra para os lados quando se entedia. O duende fica apenas à espera da hora em que você virá regar as plantas. E se você for, assobiando uma melodia antiga com a mangueira de borracha na mão, sentirá, enfim, uma mordida em seu tornozelo.

4 comentários:

Álvaro Andrade disse...

O Saulo Dourado blogueiro tá funcionando...
Rpz, esse "Costa Andrade" não é dono de contrutora grande não, quem dera.
Vai rumar pedra na janela de outro! Provavelmente, lá no condomínio de Interlagos.

Qualquer dia eu levo.

D'Artagnan disse...

seja bem vindo meu querido!!

agora ganhei um importante presente para me deleitar durante o meu dia!

obrigado por mais um pouquinho de outra pessoa de verdade nesse bololô de muito pouca gente!

Athos disse...

Bem vindo, caro colega.

Rpz, ler essas coisas suas é uma viagem sem volta. Não tem como não ler até o fim. Talvez porque elas acabam antes de ficar tedioso. Mas não é isso não, sem nem perceber já estou me recostando na cadeira e me acomodando para a jornada de ser outro alguém.

abraço

Isadora Sodré disse...

sempre gostei de duendes e de sementes também.
e você sempre escreve muito bem, vivo me perdendo em suas histórias.

beijos