Sim, somos todos, pelo menos os que comungam com um certo brio sentimental, que o capitalismo é um sistema desesperador, mas o comunismo não tem mais força de motivação para nos fazer lutar contra ele com as armas de antes. A sensação é de derrota. Além da dificuldade astrônomica de tomar um poder (seria necessário. a estrutura de agora não comporta uma revolução branda), as chances de sobrevivência seriam quase nulas em um mundo onde as economias se intercalam fervorosamente e não há muitas interferências estatais - um estado comunista não duraria mais que o tempo de sua auto-suficiência. Mas complexidade de ação nunca foi barreira para movimentos juvenis, o que sepulta mesmo é a anulação de sentimento de causa. Sem sensação, acabou. Não há vontade, não há corpo de revolução que funcione.
Das duas uma: ou se renova a idéia comunista com outra vibração, o que não foi feito em quarenta anos e quando a revolução parecia mais tangível, ou se cria um novo jeito de engajar-se contra o sistema posto. E o que seria esse último? Um revolucionário com as possibilidades e as motivações do nosso tempo, planejando os caminhos de salvar o mundo que nos façam sentido, que nos toquem ambiciosamente para frente, não apenas racionalmente para a dispersão. É preciso imaginar como seria ele. Perceber, não inventar, o revolucionário desse instante.